sábado, setembro 23

Contradições liberais

No último número da Revista Atlântico, Maria de Fátima Bonifácio atira-se às consequências no campo universitário dos princípios que a mesmíssima revista deseja reinante em todos os campos da vida social. No fundo, atira-se às consequências práticas no seu quintal da ideologia atlantista, que noutros quintais ela ruidosamente aplaudiu. É efectivamente a mesma pessoa que há meses suspirava por universidades privadas de excelência que lhe aliviassem da angústia de trabalhar para os maus do Estado.

"as regras do financiamento da investigação científica têm produzido efeitos perversos. Ele faz-se em resultado de uma avaliação quantitativa das instituições levada a cabo por entidades exteriores às mesmas, entre as quais se encontram cada vez mais especialistas estrangeiros. Como é evidente, ninguém espera que as equipas de avaliação gastem meses a examinar - a ler - a produção das instituições em apreço"
"Qualquer tipo de conhecimento que não seja directa ou indirectamente rentabilizável no mercado, que não sirva o progresso tecnológico das empresas ou que não seja instrumental para a definição imediata das políticas governativas, terá cada vez mais dificuldade em obter financiamento num mundo dominado por um conceito utilitarista da Ciência e Universidade (...) Do lado do ensino, as coisas não vão melhor: pretende-se fazer da Universidade uma mera escola de formação profissional e sujeitar o que lá se ensina e aprende às solicitações do mercado e às necessidades das empresas"
"Infelizmente, as humanidades não são práticas nem úteis: o seu estudo e difusão apenas terão o efeito de tornar a sociedade menos ignorante. Mas - como interrogava Alan Bloom - se a Universidade não serve para ensinar a ler Virgílio em latim, para que diabo servirá então?"


Quem diria: estou substancialmente de acordo com uma atlantista. Mas não me parece que a contradição seja minha...