quinta-feira, março 2

neo realismo portugues ( Manuel da Fonseca )

Poema da Menina Tonta

A menina tonta passa metade do dia
a namorar quem passa na rua,
que a outra metade fica
pra namorar-se ao espelho.

A menina tonta tem olhos de retrós preto,
cabelos de linha de bordar,
e a boca é um pedaço de qualquer tecido vermelho.

A menina tonta tem vestidos de seda
e sapatos de seda,
é toda fria, fria como a seda:
as olheiras postiças de crepe amarrotado,
as mãos viúvas entre flores emurchecidas,
caídas da janela,
desfolham pétalas de papel...

No passeio em frente estão os namorados
com os olhos cansados de esperar
com os braços cansados de acenar
com a boca cansada de pedir...

A menina tonta tem coração sem corda
a boca sem desejos
os olhos sem luz...

E os namorados cansados de namorar...
Eles não sabem que a menina tonta
tem a cabeça cheia de farelos.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Neo-realismo? Não sei? Não fazia ideia que por exemplo este poema da "Menina Tonta", ou outros semelhantes se poderiam caracterizar como neo-realistas. Afinal, se o neo-realismo é uma corrente ou linguagem tão significativa, saberá portanto me esclarecer o porque deste poema ser neo-realista?

Numa pintura, eu atrevo-me a dizer que existem formatos mais significativos que o neo-realismo. Formatos esses que pelo lirismo da conjugação das cores, tons e luz, criam uma linguagem mais subtil, tornam capazes nas imagens a percepção da realidade, ou das verdades ou essências dessa realidade de uma forma mais poética, ou por vezes apenas mais clara e acertiva, que através do realismo e o neo-relismo não é possível.

A subtileza da linguagem é sempre um aspecto enriquecedor, e muito difícil de concretizar.

Este poema parece-me um poema menor e já não falando de estilos, mas apenas da abordagem que faz do conteúdo, nem por isso suficientemente profunda nas dirersas implicações de uma Menina Tonta.
Há quem diga que aquele trocadilho do dantas também é poesia, eu diria apenas que é uma artimanha.

A Sofia de Mello Breyner fala destas meninas tontas, num dos seus contos infantis, mas criando algo de significativo e bonito, que alerta para várias implicações da questão.

e o Poema do Menino Tonto:

O menino tonto é o que gosta de apreciar longamente, as tontas das meninas que por ele passam e se lisongeiam com isso.

O menino tonto não quer saber se a menina tem farelos na cabeça, ou coração de corda.

O tonto do menino, gosta é de deixar em farelos as cabeças das meninas que ainda não são tontas.

O menino tonto, tira um deleite tremendo, de ao lado da sua namorada, olhar entre as meninas tontas que por ali passam qual delas tem a saia mais curta. Assim o menino tonto, dá vontade a sua menina de ela se tornar tonta também.

3/03/2006 01:42:00 da manhã  

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