sábado, julho 10



Tragédia

É trágico que a busca de novos caminhos e soluções para a democracia (participativa +- representativa), cujo modelo tradicional caminha inexoravelmente para o esgotamento(1), sejam decepadas para favorecimento de, ou uma noção de política formal e académica vincada (semi-presidencialista), mas, no caso, extremamente descontextualizada e com repercussões que ultrapassam largamente a premissa de não governabilidade do PR(2); ou, o que seria grave, de compromisso inicial de "estabilidade" realizado com o PM demissionário.


(1) Parece claro que os eleitores possuem noções mais avançadas de democracia. O processo de representatividade (sujeito A delega representatividade a sujeito B) não dá espaço de manobra exclusivo ao sujeito B. O eleitores encontraram, por agora, espaço de participação na responsabilização directa, em eleições, dos seus representantes. Na pequena crise que nos incomoda esse espaço de participação desaparece, pois o instrumento de responsabilização do governo dos últimos dois anos fica inacessível. Em 2006, vai às urnas não o PSD mas dois governos, e o segundo, de PSL, poderá fazer esquecer o primeiro limpando a cara. E isto é, de facto, anti-democrático. O voto "ideológico" é cada vez menor e a classe política, a começar pelo PR, tudo devia fazer para garantir esse espaço de participação e até ampliar novos caminhos.

(2) Sampaio atropelou-se a si próprio e à sua noção das responsabilidades de um PR. Propõe-se a garantir que o governo segue o programa sufragado, e aponta mesmo cinco áreas, e o mecanismo é a fiscalização, condicionando, em cada momento, políticas governamentais, estando na realidade a governar. De qualquer modo, o máximo que poderia fazer seria acenar com a ameaça de dissolução, e obviamente o próximo governo, co-responsabilizando-o, "manda-o às malvas": "acertos", "segundo ciclo da legislatura", "nova realidade", "má interpretação", etc. E o PR, apertado, nada fará.