sexta-feira, março 12

Boaventureirices...

Este responde ao bem(?!)-aventurado post abaixo. Coube-lhe o papel de "caceteiro" - e justíssimo, visto que chegou primeiro - e deixa aos "peralvilhos do século XXI a tarefa menos árdua e menos vil[...]", ainda assim menos divertida. Em todo o caso coloquei uma pala no olho (esquerdo, para que não leia barbaridades), uma camisa sem mangas e estou preparado para fazer o papel do casquilho, descodificando paulatinamente a explícita gíria.
Torna-se penosa a tentativa de fugir da crítica escatológico-escarninha às fundações gerais deste relativismo absolutista, fraco esboço de paradigma, para mais recusando os seus conceitos ininteligíveis - mas que raio poderá significar "heterotópico"?, nem tendo absoluta certeza de o querer fazer, mas tentarei ser o mais claro que a paciência me permitir.

1. A garantia da natureza efémera do pós-modernismo, sub-produto de uma Situação, recai na inaplicabilidade das suas premissas, que, a ser aplicadas, reduziriam o mundo a um subjectivismo radical decadente. É, ainda, o projecto em curso do modernismo que garante os movimentos políticos, a Ciência ou a Universidade, mais, o movimento real de emancipação, etc;

2. Irrita-me a tentativa de recurso a ideias/conceitos/métodos objectivos das ciências exactas para demonstrar conceitos subjectivos, realizando afirmações categóricas sobre aqueles, numa clara contradição;

3. A importação dessas noções das ciências exactas sem a menor justificação conceptual ou más interpretações das mesmas são erros repetidos à exaustão. A título de exemplo, a teoria do caos, explanada em equações absolutamente deterministicas, é conspurcada e usada para defender um limite da Ciência ou, até, o fim do determinismo;

4. Convido-vos agora a visitar este sítio. Em cada acesso ao link, será automaticamente gerado, por software, um texto completamente aleatório e sem qualquer significado. Leiam e maravilhem-se;

5. Debruço-me agora sobre algumas afirmações do tr, "desflorando-as" pelo caminho:

5.1. "A sua enunciação [da História] talvez tenha sofrido deslocações de retórica, objecto, [...]".
A redução da História a uma enunciação de uma construção social revela a obsessão na percepção humana, na sua construção social e linguística. A pretensão transformadora e subversiva (arriscar-me-ia, até, a dizer revolucionária) dos pós-modernistas esvai-se nessa obsessão, prevalecente sobre a dura realidade, as amarras do trabalho;

5.2. "sedução celebratória". É uma expressão muito gira.

5.3. O paleio psicotrópico seguinte das "mini-racionalidades" recai sobre a dimensão política (vou esquecer a distracção da (ir)racionalidade). Admite, simplesmente, as capacidades emancipatórias das várias condições sociais independentemente (os nãos-qualquer coisa). Só. Ora cada uma dessas dimensões não passa de um reflexo da teia de relações construida pelo mercado. A superação da condição de sub-produto, o "remendo", é inútil pela sua inconsequência no superar de todas as injustiças.

5.4. "a hermenêutica do conhecimento [...] única área do conhecimento.". Com isto pretende reivindicar a legitimidade das áreas de conhecimento social em se denominarem ciências, com acesso, em igualdade, aos métodos objectivos das ciências exactas. Para resposta a esta afirmação ver pontos 2 e 3.

5.5. É o último por agora - embora as últimas duas frases nem de uma segunda leitura sejam dignas, dedicar-lhes-ei um post próprio. "O seu contrário[...] visando constituir-se em senso comum [...] modernidade de topo.". Sim senhor: senso-comum, depois de escrever um texto afogado em jogos de linguagem que roçam o incompreensível propõe um "conhecimento-emancipação" que visa constituir-se em senso-comum. Lindo.


Nota final: Espero, para o bem de todos, ter sido bastante claro e sistemático. Agradecido.

P.S.: Um beijito para o tr e a Alice...