segunda-feira, novembro 24

Promete-o: que ela se desfigure, transfigure ou indetermine no seu porto, e ouvirás nessa palavra a margem da partida, assim como o referente na direcção do qual uma translação se orienta. Come, bebe, engole a minha letra, porta-a, transporta-a em ti como lei de uma escrita em que o teu corpo se tornou: a escrita em si. A astúcia da injunção pode inicialmente deixar-se inspirar pela simples possibilidade da morte, pelo perigo em que um veículo faz incorrer todo o ser finito. Ouves a chegada da catástrofe. Desde então, impresso no próprio traço, vindo do coração, o desejo do mortal desperta em ti o movimento (contraditório, acompanha-me, dupla restrição, imposição aporética) de proteger do esquecimento esta coisa que ao mesmo tempo se opõe à morte e se protege - numa palavra, o avanço, a retração do ouriço, como na auto-estrada um animal enrolado em bola. Desejariamos pegá-lo nas mãos, conhecê-lo e compreendê-lo, guardá-lo para nós, junto de nós.

Jacques Derrida - "Che cos'è la poesia?" (excerto)

Hoje sinto-me um bocado lamechas...