domingo, abril 1

Dívidas externas!

Muito se têm vociferado sobre o direito económico e a necessidade de manter os compromissos económicos de nações , nem que para isso se tenha de arrastar, povos inteiros para a fome e o desespero. A raiz idiomática por trás de tal direito é o reconhecimento de uma memoria histórica, que importa respeitar e cultivar, como característica intrínseca e definidora de um pais.

Para todos aqueles que desta forma pensam talvez seja interessante ler e reflectir sobre as palavras do EMBAIXADOR GUAICAÍPURO CUATEMOC.


DISCURSO DO EMBAIXADOR GUAICAÍPURO CUATEMOC

Um discurso feito pelo embaixador Guaicaípuro Cuatemoc, de
descendência indígena, defendendo o pagamento da dívida externa do
seu país, o México, embasbacou os principais chefes de Estado da
Comunidade Européia. A conferência dos chefes de Estado da União
Européia, Mercosul e Caribe, em maio de 2002 em Madrid, viveu um
momento revelador e surpreendente: os chefes de Estado europeus
ouviram perplexos e calados um discurso irônico, cáustico e de
exatidão histórica que lhes fez Guaicaípuro Cuatemoc.

Eis o discurso:

"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil
anos, para encontrar os que a "descobriram" só há 500 anos. O irmão
europeu
da aduana me pediu um papel escrito, um visto, para poder descobrir
os que me descobriram. O irmão financista europeu me pede o
pagamento - ao meu país -, com juros, de uma dívida contraída por
Judas, a quem
nunca autorizei que me vendesse. Outro irmão europeu me explica que
toda dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos
seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento. Eu
também posso reclamar pagamento e juros.

Consta no "Arquivo da Cia. das Índias Ocidentais" que, somente entre
os anos 1503 e 1660, chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil
quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.

Teria sido isso um saque? Não acredito, porque seria pensar que os
irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento!

Teria sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer que os
europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão.

Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como
Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirmam que a
arrancada do capitalismo e a atual civilização européia se devem à
inundação de metais preciosos tirados das Américas.

Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata
foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América
destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria
presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a
exigir não
apenas a devolução, mas indenização por perdas e danos.

Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva.

Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de
um plano "MARSHALL MONTEZUMA", para garantir a reconstrução da
Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos,
criadores
da álgebra, da poligamia, e de outras conquistas da civilização.

Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar:
Os irmãos europeus fizeram uso racional responsável ou pelo menos
produtivo desses fundos?

Não. No aspecto estratégico, dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em
navios invencíveis, em terceiros reichs e várias formas de
extermínio mútuo. No aspecto financeiro, foram incapazes, depois de
uma moratória
de 500 anos, tanto de amortizar o capital e seus juros quanto
independerem das rendas líquidas, das matérias-primas e da energia
barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo.

Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual
uma economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a
reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dos
juros que, tão generosamente, temos demorado todos estes séculos em
cobrar. Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a
cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas
de 20% e até 30% de juros ao ano que os irmãos europeus cobram dos
povos do Terceiro Mundo.

Nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos, acrescida
de um módico juro de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300
anos, com 200 anos de graça . Sobre esta base e aplicando a fórmula
européia de juros compostos, informamos aos descobridores que eles
nos devem 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata,
ambas as cifras elevadas à potência de 300 , isso quer dizer um
número para cuja expressão total será necessário expandir o planeta
Terra.

Muito peso em ouro e prata... quanto pesariam se calculados em sangue?

Admitir que a Europa, em meio milênio, não conseguiu gerar riquezas
suficientes para esses módicos juros, seria como admitir seu
absoluto fracasso financeiro e a demência e irracionalidade dos
conceitos capitalistas.

Tais questões metafísicas, desde já, não inquietam a nós, índios da
América. Porém, exigimos assinatura de uma carta de intenções que
enquadre os povos devedores do Velho Continente e que os obriguem a
cumpri-la, sob pena de uma privatização ou conversão da Europa, de
forma que lhes permitam entregar suas terras, como primeira prestação
de dívida histórica..."

Quando terminou seu discurso diante dos chefes de Estado da Comunidade
Européia, o Cacique Guaicaípuro Guatemoc não sabia que estava expondo
uma tese de Direito Internacional para determinar a Verdadeira Dívida
Externa. Agora resta que algum Governo Latino-Americano tenha a
dignidade e coragem suficiente para impor seus direitos perante os
Tribunais Internacionais. Os europeus teriam que pagar por toda a
espoliação que aplicaram aos povos que aqui habitavam, com juros
civilizados.

Publicado no Jornal do Comércio - Recife/PE




Pessoalmente defendo que nenhuma geração deva poder fazer compromissos que envolvam mais historia que apenas a sua, e mesmo esses compromissos devem ter o acordo total e expresso da sua geração.