segunda-feira, maio 22

Memórias de um Sábado à tarde na PT

Trabalhar na PT não é para a paciência de qualquer um... Trabalhar no Serviço Informativo tem a sua conta de semelhança com o que se faz de mais extremo num serviço de psiquiatria... Se bem que existe uma determinada percentagem de clientes conscientes daquilo que querem do serviço e de como o pedir, a larga maioria não faz a mínima ideia do que se passa do lado de lá do auscultador... Desde clientes a perguntar qual é o limite mínimo de velocidade nas auto-estradas a outros, menos conscenciosos, que ligam a perguntar como se faz uma pagina na internet, outros que ligam a pedir a radio-agnóstico... Sem esquecer o saudoso cliente que um dia se lembrou de pedir o número do Ti Manel em Vale de Sapos, cliente esse a ligar de um telefone com um nível de estática considerável, agravado ao facto de ser, nas suas próprias palavras, "um pouco surdo"... Isto é o hábito... Mas esta breve descrição apenas atinge o âmbito estreito das chamadas semanais... Ao fim-de-semana, a coisa piora consideravelmente... Portugal inteiro parece lembrar-se do amigo/tio/parente afastado residente em parte incerta de sobrenome desconhecido do qual apenas tem o número de cinco digitos para o qual ligaram "há coisa de dez anos, e funcionava be..." Os seguintes excertos relatam algumas experiências vividas por operadores incertos no Serviço Informativo da PT Comunicações, num pouco movimentado sábado à tarde...

Senhoras e Senhores, apresento-vos:


O Dia dos Anormais

1 - O dia, ou melhor, a tarde começa bem...
Passa pouco das duas e meia, já aqui estou há um bocado... A situação reflecte uma estranha apatia... Comento com a colega ao lado: "Hoje estou particularmente espacial..." Ela responde: "Não estás todos os dias?"

2 - Começa a festa...
Cliente liga, pede a psp no porto, até aqui tudo bem... a chamada termina assim, "sabe menina, eu ando atrás dos gajos do lixo aqui no porto, para os controlar... faça-me a ligação e diga-lhes (aos da psp) que eu sou o xerife do porto..." O xerife do porto... bonito, bonito... Este ja devia estar bem aviado...

3 - Colega ao lado comenta com cliente "nós não temos os números dos videntes..." Aproximo-me e faço-lhe a pesquisa para tirar o número do célebre Professor Karamba... Contudo, no resultado aparecem outros Karamabas... De repente ouço ao meu lado... "Há... olha pra este, chama-se Karamba Fofana... Deve ser é gay..." A loucura é contagiante...

4 - Ainda mais demêncial... Será pssível?
Cliente liga, e pede, eis o espanto, "olhe, eu queria o número das Carmelitas Calçadas em paços de ferreira..." Operador responde "como carmelitas calçadas não temos qualquer registo..." e completa em mute "pretende as descalças?" Aparente havia um registo, na àrea de penafiel de monjes carmelitas descalços... bom, não haviam mulheres, mas haviam homens... "pretende a informação?"

5 - De repente: "olha, este está a ligar de a-dos-loucos. Deve ser tão louco que nem o atendo, deixa-o falar prali." "Epá, mas isso é descriminação..." Bolas, se já não tenho paciência para aturar os outros, este de a-dos-loucos deve ser ainda pior. Não... deixa-lo falar, ele vai-se embora..." A-dos-loucos, é uma localidade nas imediações de sintra, existe, e, presumo, os seus habitantes não deverão ser mais loucos que os restantes clientes do Serviço Informativo... julgo eu...

6 - Cliente entra, e pede... restaurante... Babrico... "Por favor soletre o nome ba... o nome do restaurante." "o nome é B-A-B-R-I-C-O" "Babrico, obrigado..." É claro que "com os dados que refere, não temos qualquer registo... Mas isto de nomes estranhos de restaurantes faz-me sempre lembrar aquele que é o campeão dos nomes estranhos... Senhoras e senhores, tenho a honra de vos apresentar o famosissímo restaurante Toino Zé, O Mata Porcos, sito na rua alexandre herculano em portimão... Presumo, apenas presumo, que sirvam porco, mas claro, posso estar enganado...

entretanto retiram-me o informativo e apenas fico a atender os serviços mais de luxo... 12118 e 1820... pena... lá se foi a maralhada... mas ainda posso ouvir pessoas ao lado...

7 - Ao fundo da sala houve-se um colega, barafustando um pouco alto, "não é três vezes dois, é só duas vezes..." não percebi, calculo que não tivesse esse propósito...

Bom, e assim, ou mais ou menos assim, se passou uma tarde de sábado a trabalhar no Serviço Informativo da PT Comunicações... Ou como durou num certo periodo PT das Comunicações... Deixo-vos só com uma última pérola, "Estou? Olhe, eu queria o número do doutor Paixão da Trofa..." Eu sei, é fraquinha, mas eu achei piada...


4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

1. Haviado? do verbo haver?
ou quererias dizer aviado...de aviar...não tem a ver com aviários.
2. por falar em verbo haver, nao se diz "nao haviam mulheres", neste caso usas o singular. É uma regra gramatical, não convém cagar nisso.
3. Campião é uma forma meio arcaica de escrever a palavra...neste período mais actual, tipo há uns anos a esta parte, escreve-se campeão...mas caga nisso, aposto que te estás a guiar pelo estabelecimento onde depositas o boletim da sorte. Mas caga nisso.
SALSICHA

5/26/2006 12:21:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

correcção: onde está "há uns anos a esta parte" deve ler-se "de há uns anos a esta parte"
SALSICHA

5/26/2006 12:22:00 da tarde  
Blogger Zé Gato said...

Caríssimo salsicha

Em primeiro lugar, quero penosamente comunicar-te que, apesar do valoroso esforço que apresentáste na esforçada correção do meu português, não te será atribuido o lugar de revisor textual do blog "Foi Um Ar Que Se Lhe Deu". Lamento, mas dada a conjuntura económica actual, não temos capacidade para empregar mais um funcionário.

Quando às correcções que fizeste, agradeço a primeira, a terceira não a considero uma correcção. Quando à segunda, sou forçado a discordar, contigo e com a regra gramatical, que, a meu ver, está incorrecta. A função de uma língua é servir ao pensamento como instrumento de tradução do real, e ao mesmo tempo, de instrumento de formulação desse mesmo pensamento. Não me parece que a regra gramatical em questão sirva esse propósito, onde o número do verbo não concorda com o do complemento directo...

Duas últimas notas:

Não tenho por hábito jogar em qualquer tipo de jogo de azar, denominação na qual incluo lotarias, totolotos, totobolas e afins.

Parece-me que "cagas nisso" demasiado...

5/26/2006 05:45:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Apesar da antiguidade deste post, em relação à localização de A-dos-Loucos, estás a ver Sintra? pois é, não tem mm nada a ver!! A-dos-loucos fica em Alhandra, concelho de Vila Franca de Xira

3/09/2007 04:12:00 da tarde  

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