quarta-feira, março 8

Tomada de posse Cavaco Silva!



Discurso proferido na sala do Conselho de Estado, em 27 de Abril de 1928, no acto da posse de Ministro das Finanças, segundo as notas do jornal Novidades.

SR. PRESIDENTE DO MINISTÉRIO *:

Duas palavras apenas, neste momento que V. Exa., os meus ilustres colegas e tantas pessoas amigas quiseram tornar excepcionalmente solene.

Agradeço a V. Exa. o convite que me fez para sobraçar a pasta das Finanças, firmado no voto unânime do Conselho de Ministros, e as palavras amáveis que me dirigiu. Não tem que agradecer-me ter aceitado o encargo, porque representa para mim tão grande sacrifício que por favor ou amabilidade o não faria a ninguém. Faço-o ao meu País como dever de consciência, friamente, serenamente cumprido.

Não tomaria, apesar de tudo, sobre mim esta pesada tarefa, se não tivesse a certeza de que ao menos poderia ser útil a minha acção, e de que estavam asseguradas as condições dum trabalho eficiente. V. Exa. dá aqui testemunho de que o Conselho de Ministros teve perfeita unanimidade de vistas a este respeito e assentou numa forma de íntima colaboração com o Ministério das Finanças, sacrificando mesmo nalguns casos outros problemas à resolução do problema financeiro, dominante no actual momento. Esse método de trabalho reduziu-se aos quatro pontos seguintes:

a)que cada Ministério se compromete a limitar e a organizar os seus serviços dentro da verba global que lhes seja atribuída pelo Ministério das Finanças;

b) que as medidas tomadas pelos vários Ministérios, com repercussão directa nas receitas ou despesas do Estado, serão previamente discutidas e ajustadas com o Ministério das Finanças;

c) que o Ministério das Finanças pode opor o seu «veto» a todos os aumentos de despesa corrente ou ordinária, e ás despesas de fomento para que se não realizem as operações de crédito indispensáveis;

d) que o Ministério das Finanças se compromete a colaborar com os diferentes Ministérios nas medidas relativas a reduções de despesas ou arrecadação de receitas, para que se possam organizar, tanto quanto possível, segundo critérios uniformes.

Estes princípios rígidos, que vão orientar o trabalho comum, mostram a vontade decidida de regularizar por uma vez a nossa vida financeira e com ela a vida económica nacional.

Debalde porém se esperaria que milagrosamente, por efeito de varinha mágica, mudassem as circunstâncias da vida portuguesa. Pouco mesmo se conseguiria se o País não estivesse disposto a todos os sacrifícios necessários e a acompanhar-me com confiança na minha inteligência e na minha honestidade ? confiança absoluta mas serena, calma, sem entusiasmos exagerados nem desânimos depressivos. Eu o elucidarei sobre o caminho que penso trilhar, sobre os motivos e a significação de tudo que não seja claro de si próprio; ele terá sempre ao seu dispor todos os elementos necessários ao juízo da situação.

Sei muito bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em poucos meses. No mais, que o País estude, represente, reclame, discuta, mas que obedeça quando se chegar à altura de mandar.

A acção do Ministério das Finanças será nestes primeiros tempos quási exclusivamente administrativa, não devendo prestar larga, colaboração ao Diário do Governo. Não se julgue porém que estar calado é o mesmo que estar inactivo.

Agradeço a todas as pessoas que quiseram ter a gentileza de assistir à minha posse a sua amabilidade. Asseguro-lhes que não tiro desse acto vaidade ou glória, mas aprecio a simpatia com que me acompanham e tomo-a como um incentivo mais para a obra que se vai iniciar.


O discurso de Cavaco Silva sera assim tão diferente?

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O tom profético com que Anibal fala do sentimento de responsabilidade com que vai ocupar o cargo, ou a presença da família Cavaco toda reunida nas declarações públicas do Anibal, ou os olhinhos da Maria que se espicham quando o esposo começa com seu jeitinho especial de fanhoso a falar: "responsabilidade, é com responsabilidade", são imagens que chegam a dar um friozinho na espinha, mas Cavaco é um Social-Democrata domesticado pelos tempos, não tem como satisfazer os seus desejos mais intimos de poder e liderança.

Porque gostas de orientar os tuas opniões pelo exagero, será que és mesmo um pós-modernista?
Começo a acreditar que os teus posts não são ironias, mas sim confissões. S.

3/08/2006 08:20:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

pós-modernista, pós-modernista, pós-modernista.. embora na minha cabeça passem outros nomes, mas mesmo assim :)

s.

3/08/2006 09:14:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

caríssimo, totó? (caríssimo, meu caro, caríssimo, recordo-me da amigável forma como os compinchas do Laranja Mecânica falavam entra si, não que haja termo de comparação, meu caro é de longe muito mais, mas refiro-me apenas ao tom, ao modo de o pronunciar, sempre tão contido entre os dentes, se é para piadar, piademos, também me concedo o direito a esta expessão, mas não me interpretes mal, meu caro). Meu caro, totó, não, eram nomes mais tempestuosos, mais dramáticos, alguns em rima.

mas o :) era só :), um para ti também.. S.

3/09/2006 08:29:00 da tarde  

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