quinta-feira, fevereiro 19

PALAVRAS

«Lolita, luz da minha vida, fogo da milha virilidade. Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: a ponta da língua faz uma viagem de três passos pelo céu da boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo. Li. Ta.»
NABOKOV, Vladimir, Lolita, trad. Port. Fernanda Pinto RODRIGUES, Editorial Teorema, pág. 11

A estranheza que me causou a palavra «professor» quando lida e, subsequentemente, dita em voz alta, fez-me recordar, por oposição, o primeiro parágrafo do Lolita do NABOKOV, que sabe muito melhor dizer em inglês (e em voz alta), por causa do jogo de sons: «Lolita, light of my life, fire of my loins. My sin, my soul. Lo-lee-ta: the tip of the tongue taking a trip of three steps down the palate to tap, at three, on the teeth. Lo. Lee. Ta.» (Agradecendo ao sitio que comemora o centenário de NABOKOV).
Existem outras palavras assim – e «palavras» é uma delas -, que sabem bem dizer. Sabem bem, porque se enrolam na língua e parece que as papilas gustativas lhes prendem o sabor e ficamos com a boca cheia de nada, mas ao mesmo tempo com o sabor de cada som.
Agradeço a quem me disse que «maltrapilho» é das melhores palavras que existem.