domingo, agosto 3

Estou acordado... Um estádio de vigilância impede-me de dormir. Lá fora o cheiro a madeira queimada é impressionante. Minúsculos pedaços de foligem entraram dentro do meu quarto. Mas só o cheiro se sente, não há luz, não há clarão... por vezes uma ou outra brisa mais quente desperta a consciência para uma possível proximidade de algo, mas nada se avista no horizonte, só o cheiro, só o cheiro corroi a mente e projecta imagens de caos... Eu tinha prometido a mim mesmo não escrever sobre mundaneidades mas... a necessidade foi mais forte do que eu. Talvez o medo seja um pavio da necessidade de comunicação, não sei... Um sol vermelho iluminou o dia... pintou a luz de um tom mais obscuro, mas é à noite que incomoda. Há pouco um vizinho disse ter visto um clarão vermelho ao longe, estava numa posição mais elevada. Eu não vejo nada... No fundo creio que é a espectativa de poder visualizar o monstro que me mantém acordado. Talvez tenhamos, de facto, todos um pouco de piromaniacos... As recordações de noventa e cinco já estão pouco presentes... Na altura chegou e bastou... Eu costumo dizer que a coisa que mais rápido me fez atravessar a quinta onde moro foram as abelhas que estão no outro estremo, junto à mata. Hà pouco lembrei-me de outra coisa... o fogo. Uma brisa fresca sopra agora, o cheiro dissipa-se. Já estou mais descansado... Onde quer que estivesse, estava longe. É fácil pensar assim... muito fácil. Mas as coisas são assim mesmo. O melhor é não pensar.