segunda-feira, setembro 29

A burguesia perdeu a cara

Ao fim de vinte anos a Historia regressou. Falo claramente da crise económica que tem o seu epicentro nos mercados financeiros. A esta distância, tudo aquilo que é escrito pode não ter qualquer validade. Em alturas de profundas rupturas conceptuais, todas as previsões e convicções têm a validade de pouco minutos mas, apesar disso, parece-me relativamente seguro fazer algumas considerações.

1) Esta é um crise do Capitalismo enquanto sistema de organização social da produção. Ao contrário daquilo que nos tentam impingir, não existe uma divisão de classe entre os detentores dos meios de produção e eles próprios. Não existem bons Capitalistas e maus Capitalistas. Esta nova invenção conceptual é apenas uma má tentativa de salvar a face. A financeirização da economia é o resultado directo dos processos de acumulação do Capital. Sem mercado financeiro não existe capacidade no Capitalismo de criar e acumular mais valias. Sem mercados financeiros, há muito anos que a taxa média de lucro seria demasiado baixa. Os mecanismos de financeirização da economia foram o resultado directo da procura incansável do aumento da taxa de lucro. A criação do subprime não se deveu a uma resposta ao direito socialmente consagrado de todos e todas terem acesso a uma habitação condigna, mas deveu-se à necessidade de encontrar novas formas de aumentar a taxa de lucro.

2) A burguesia torturou-nos durante anos com a necessidade de retirar o estado de todas as áreas da sociedade (privatização da Caixa Geral de Depósitos, da Educação, da Segurança Social, do Serviço Nacional de Saúde, ...) com o argumento de que o mercado faria melhor e com menos dinheiro. O que esta crise nos demonstra de maneira clara é que o mercado não só faz pior do que o estado, como o faz brincando com a vida de milhões. Vejam-se as seguradoras que administravam planos de reforma e que os geriram de forma tão calamitosa e criminosa. No mais avesso país às nacionalizações, estas foram a única forma de garantir que milhões de americanos tivessem acesso àquilo que pagaram e por que ansiaram toda a vida, uma reforma.

3) A burguesia defendeu durante anos que os lucros não eram moralmente condenáveis porque a eles estava associado o risco dos prejuízos. Vimos com esta crise que os lucros são privados e os prejuízos públicos.

Pretendo continuar a desenvolver este e outros temas à medida que a crise se vai agudizando, porque esta é a altura de cobrar moralmente e politicamente as promessas de prosperidade e estabilidade feitas pelo mercado!

A História segue dentro de momentos.