sexta-feira, janeiro 5

Diário de um Portugal Pré-Pós-Moderno

Acordei 9h. Fui de carro até perto de uma loja da Vodafone e, estacionado, liguei o computador portátil conectando-me à rede wireless da loja para ver os horários dos comboios. Fui entrgar o carro à dona (não era o meu) e ligo para a central de taxis para me ir buscar. 30 minutos depois estava na estação de comboios de Torres Vedras e compro um bilhete para Leiria, com cartão jovem. Enquanto espero que venha o comboio vou até ao bar da estação beber um café. O que era suposto ser um ponto de passagem (um não-lugar) não era senão um café como todos os outros onde pessoas da terra, e só pessoas da terra param durante alguns instantes e contam histórias do quotidiano, acções de tribunal a que estão sujeitas, perdas do poder de paternidade, visitas a repartições públicas, carros que pensam comprar...
Às 12:15 em ponto o comboio parte. Da última vez que andei num comboio da Linha do Oeste, os comboios eram metalizados, escuros do fumo do diesel, com bancos corridos de napa e cheiravam a ferro e fumo. O comboio que se apanha agora nesta linha é igual a qualquer suburbano: verde, cheio de grafitis, bancos individuais, desconfortáveis com o tecido aveludado sujo e a cheirar a surro. Durante a viagem, o comboio esteve sempre semi-vazio com pessoas a entrar e sair em apeadeiros (nas estações nunca embarcou nem desembarcou ninguém). O cenário alternava entre pinhal, hortas e localidades com edifícios abandonados que tinham sido construídos na esperança que a linha de comboio constituísse um pólo de desenvolvimento.
Às 14:15 chego a Leiria, vão-me buscar à estação e vou buscar o meu carro. Faço uma visita ao banco para ir buscar um código secreto que necessitava da minha assinatura. Em seguida vou a uma oficina e peço para me mudarem o óleo do carro. Enquanto espero vou à loja dos meus pais (mesmo ao lado) e acedo novamente à internet: visito este blog, o blog da minha banda, envio uns mails, visito fóruns de discussão, procuro notícias de algumas bandas.
Vou buscar o carro meia-hora depois e vou ao café com um amigo que foi da minha turma do 7º ao 10º ano. Comentamos passagens de anos e a ex-namorada dele diz: "Fomos para a Nazaré uns dias antes. Às seis da manhã acordei toda a gente a dizer 'O Saddam morreu! O Saddam morreu'".
Janto em casa e parto para Coimbra. Dirijo-me imediatamente ao Tropical onde fiquei até perto das 23h. Falou-se do Saddam, do referendo ao aborto, da ETA... Quando saio do café vou alugar um filme ("Memento") e vejo-o antes de adormecer.