domingo, abril 25

Por trás daquela janela

(Música e letra de José Afonso. Escrita por volta de 1972 e dedicada a Alfredo Matos, que se encontrava preso pela PIDE. Só hoje soube o intencional significado da música, quando lhe procurava a letra na internet.)

Por trás daquela janela
Por trás daquela janela
Faz anos o meu amigo
E irmão

Não pôs cravos na lapela
Por trás daquela janela
Nem se ouve nenhuma estrela
Por trás daquele portão

Se aquela parede andasse
Se aquela parede andasse
Eu não sei o que faria
Não sei

Se a minha faca cortasse
Se aquela parede andasse
E grito enorme se ouvisse
Duma criança ao nascer

Talvez o tempo corresse
Talvez o tempo corresse
E a tua voz me ajudasse
A cantar

Mais dura a pedra moleira
E a fé, tua companheira
Mais pode a flecha certeira
E os rios que vão pró mar

Por trás daquela janela
Por trás daquela janela
Faz anos o meu amigo
E irmão

Na noite que segue o dia
Na noite que segue o dia
O meu amigo lá dorme
De pé

E o seu perfil anuncia
Naquela parede fria
Uma canção de alegria
No vai e vem da maré

Por trás daquela janela
Por trás daquela janela
Faz anos o meu amigo
E irmão

Não pôs cravos na lapela
Por trás daquela janela
Nem se ouve nenhuma estrela
Por trás daquele portão


Hoje, acordei, propositadamente, para ouvir os discursos da assembleia, e pus, intencionalmente, um cravo. Pela primeira vez, porque achei (afinal não fui só eu) que o 25-de-Abril-com-todos-os-Rs ia festejar os anos sozinho.
Não era possível pensar outra coisa, há mais ou menos um mês começaram a aparecer os polémicos cartazes que apelavam a um Abril de evolução, de forma que um 25 de Abril de Revolução passasse despercebido. Os evolu-cartazes apenas foram a cereja podre por cima das natas azedas das privatizações da saúde e segurança social, da demissão do estado das suas funções económicas e sociais, do crescente desemprego, do desrespeito pelos trabalhadores, do dinheiro gasto em submarinos e futebol, e da tentativa de nos taparem os olhos com os novos (e evolucionados) «Fátima, Futebol e Fado».
Mas hoje alguns saíram à rua, levando «cravos na lapela» (ao contrário da maioria dos deputados da assembleia) e vaiaram, «com flecha certeira», o primeiro ministro.
É tempo de preparar os cartazes para o 1º de Maio!