sábado, agosto 23

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Jackson Pollock
Li num qualquer blog uma observação ignorante e conservadora, superficial, sobre o crédito dado a pintores cujas obras fogem ao hiper-realismo cómodo, quer sejam provenientes do abstraccionismo, do expressionismo, do surrealismo, etc - como se uma obra existisse per se, dissociada do seu criador ou até do próprio acto de criação. O autor de tal peça grunhia sobre rabiscos feitos por animais ou algo assim. O mais impressionante é que usou um quadro de Jackson Pollock para ilustrar o seu devaneio infantil.
Jackson Pollock, muitos anos antes dos cientistas definirem teorias sobre o caos e os fractais, passo fundamental para a compreensão de como fenómenos da Natureza são criados, usava processos semelhantes nos seus quadros. Os flocos de neve, as linhas costeiras ou a orla das nuvens são exemplos de fractais. No floco de neve cada pequena extensão ou braço, se ampliada, exibirá inúmeras outras extensões, que ampliadas exibirão outras, etc. Cada grau de magnitude representa um nível de fractal. O mesmo processo pode ser usado para os outros exemplos que apresentei. Das análises provenientes da teoria do caos e dos fractais foi possível, por exemplo, estimar o comportamento do clima (embora com os resultados conhecidos...).
Pollock não tinha a consciência científica das representações que criava mas deliberadamente procurou, ao longo de anos, refinar o método de trabalho no sentido de chegar o mais longe possível. O aumento do tamanho dos quadros, o facto de os deitar no chão, as constantes deambulações em redor das obras, num processo dinâmico igual ao da Natureza, tudo aponta nesse sentido.
Um só quadro seria concebido ao longo de vários meses durante os quais Pollock construiria uma rede densa de trajectórias de tinta. Até mesmo este processo cumulativo e repetitivo é extraordinariamente semelhante à evolução de padrões na Natureza.
Jackson Pollock descrevia a Natureza sem a copiar como outros pintores. Usava os processos naturais, criando os seus próprios padrões, e as suas obras são criações tão impressionantes como as flutuações do coração, a mancha vermelha em Júpiter ou um floco de neve.

P.S.: Já agora, em 2000 Ed Harris realizou e interpretou Pollock, um excelente filme sobre a vida de Jackson Pollock. A não perder.